Escola Inclusiva ou de Educação Especial: as duas!

A defesa de uma escola inclusiva para pessoas con diversidade funcional e intelectual não deveria excluir a necessidade de implementação de escolas de educação especial. Segundo o meu ponto de vista, ambas deveriam coexistir, assim como uma variação entre ambos modelos.

Defender um modelo de escola inclusiva acreditando que toda pessoa con deficiência deveria adaptarse a uma escola normativa – ainda que com recursos especializados - é cair no eixo da normatividade, de que a minoria deveria adaptar-se à maioria. Um questionamento que vem à tona é que, sabendo-se que a maioria das pessoas com deficiência mental, por exemplo, carecem de habilidades adaptativas: comunicação, autocuidado, noção de segurança pessoal, habilidades sociais, autonomia, etc... não seria mais coerente que a educação neurotípica se adaptara à educação especial, e não o contrário?

Eu acho interesante falar de modelos de escolas, no plural, porque realmente somos múltiples. Se a escola normativa não agrada nem mesmo a todos os alunos neurotípicos (e não preciso falar das cifras para afirmar que existe um alto índice de evasão escolar no Brasil), imagina só como seria para uma pessoa com problemas de neurodesenvolvimento motivar-se cada dia a ir à escola a aprender conteúdos acadêmicos complexos e sem sentido para muitas delas, que, convenhamos, futuramente não irão ser inseridas no mundo laboral – já que este mundo também deveria ser inclusivo.

E falando em múltiples, deveríamos introduzir o conceito de heterogeneidade ao falar de deficiência, porque estamos diante de um espectro que varia em gênero, número e grau. Aquí na Espanha, por exemplo, uma pessoa pode ter um grau que varia entre um 33% discapacidade (que é a deficiencia mais leve que tem), até um 100% (a mais severa). Entre um número e outro, existem 77 porcentos de posibilidades de desenvolvimento cerebral e físico. Sem falar no grau de dependência, que varia entre grau I (menos dependente) ao III (mais dependente).

Dito isso, ainda que se tratem de pessoas não típicas, não deveríamos falar delas como se estivessem no mesmo bloco de coletivo. Aquí podemos estar diante de pessoas que não sabem ler, mas sabem pegar um ônibus sozinha, ou de alguém que sabe que dia 10 de outubro de 2045 será uma segunda, mas é incapaz de amarrar o próprio cadarço.

Por tanto, falar de Diversidade Funcional e Intelectual é falar de cérebros muito bem formados em algumas áreas do desenvolvimento humano, enquanto outras não acompanharam esse desenvolvimento. É o que passa com o adulto de 20 anos que sabe andar e vestir a própria roupa, mas que usa fralda e não fala. Caminha porque aprendeu a fazê-lo aos 18 meses, se veste porque aprendeu a fazê-lo aos 3 anos, mas não fala desde os 2 e não controla o esfíncter desde os 4. A pesar dos seus 20 anos, essa é a sua idade mental nestes aspectos de sua vida.


Quando se associa inclusão à necessidade de socialização, o conceito de Idade mental é muito importante, já que uma criança com idade mental de 1 ano e meio não costuma desejar socializar com outras crianças, ou o faz da mesma maneira que uma criança de um ano e meio faria: de maneira egocéntrica e na presença do adulto. Esta criança, ainda que tenha 10 anos, necessita socializar? Necessita ter amigos e ir a festas de aniversario? É o que ele/a deseja de verdade? A Socialização deveria realmente ser para todos?

Por último, quando se fala de educação inclusiva, estamos avaliando não só a educação acadêmica, mas também a educação em valores: respeito ao próximo, trabalho em equipe, tolerancia às diferenças, etc. Neste sentido, incluir uma pessoa com necesidades educativas especais em uma escola a tornaria inclusiva e sem dúvidas educaría as pessoas neurotípicas acadêmicamente e em valores – se se faz corretamente. Não obstante, a criança afectada seria educada em alguns destes níveis, ou só estaria na escola como objeto de luxo ou pipoca de circo?

Por fim, ainda que nos assustemos com a implementação de escolas de educação especial, elas não representam para nada um retrocesso. Elas são apenas mais um modelo de escola que pretende abraçar pessoas com um cérebro pouco adaptado e um cérebro que não se adaptaría ao modelo de escola que já existe no país hoje em día, que já não é ideal nem mesmo para as pessoas sem nenhum tipo de discapacidade.

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