Trechos de Livros #2 - Mulheres que Correm com os Lobos (parte 1)

Os melhores trechos de Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que Correm com os Lobos - Parte 1

“(…) a grande tarefa diante de nós consiste em aprender a compreender à nossa volta e dentro de nós exatamente o que deve viver e o que deve morrer. Nossa tarefa reside em captar a situação temporal de cada um: permitir a morte `aquilo que deve morrer, e a vida ao que deve viver.” (p.47)

“Nós todos nascemos Anlagen, como o potencial no núcleo de uma célula: em biologia, a Anlage é a parte da célula caracterizada como “aquilo que se tornará”. Dentro da Anlage está a substância fundamental que, com o tempo, irá se desenvolver fazendo com que nos tornemos uma pessoa inteira.” (p.67)

“No processo natural do amadurecimento, a mãe-boa-demais deve se tornar cada vez mais rarefeita, deve definhar até que nos descubramos sós para cuidar de nós mesmas de um novo modo. Embora sempre mantenhamos uma essência do seu  carinho, essa transição psíquica natural nos deixa sós num mundo que não é maternal conosco.” (p.99)

Ter um companheiro/amigo que a considere como uma criatura viva em crescimento, tanto quanto uma árvore cresce a partir do chão, uma planta ornamental dentro de casa ou um roseiral no quintal... ter um companheiro e amigos que a considerem um verdadeiro ser que vive e respira, que é humano mas também composto de elementos delicados, úmidos e mágicos... um companheiro e amigos que apoiem a criatura que existe em você... São essas as pessoas por quem você está procurando. Elas serão amigas da sua alma pela vida afora." (p.131)

"É fato que dentro de um único relacionamento amoroso existem muitos finais. Mesmo assim, de algum modo e em algum ponto na delicadas camadas do ser criado quando duas pessoas se amam, existe um coração e um alento. Enquanto um coração esvazia, o outro enche. Quando uma respiração termina, outra se inicia” (p.158)

"Uma parte de cada mulher e de cada homem resiste ao reconhecimento de que a morte deve participar de todos os relacionamentos de amor. Nós fingimos que podemos amar sem que morram nossas ilusões acerca do amor, fingimos que podemos prosseguir sem que morram nossas expectativas superficiais, fingimos que podemos ir em frente e que nossas emoções preferidas nunca morrerão. No amor, porém, em termos psíquicos, tudo é dissecado, tudo. (p.164)

Sem uma tarefa desafiadora, não pode haver transformação. Sem uma tarefa, não há uma satisfação verdadeira. Amar os prazeres é fácil. Já amar de verdade exige um herói que consiga controlar seu próprio medo.” (p.170)

"Na fantasia dos pais, qualquer dos filhos que tenham será perfeito e refletirá apenas o jeito de ser dos pais. Se a criança for rebelde, ela pode, infelizmente, ser alvo de repetidas tentativas dos pais no sentido de realizar uma cirurgia psíquica, pois eles estarão tentando remodelar a criança e, mais do que isso, alterar o que a alma da criança exige dela mesma. (p.201)

"(...) mesmo que a mãe fraqueje, o rebento pode sobreviver. É esse o modelo psíquico e a esperança para aquelas que tiveram pouco ou nenhum cuidado materno, bem como para as que sofreram cuidados torturantes. Muito embora a mãe de certo modo esteja acabada, muito embora ela não tenha mais nada a oferecer, os rebentos irão sei desenvolver, crescer independentes, e ainda vicejar." (p.210)

"Mesmo que tenhamos apenas ouvido falar de um maravilhoso mundo selvagem ao qual um dia pertencemos, apenas vislumbrado esse mundo ou sonhado com ele, mesmo que até agora nós ainda não o tenhamos tocado ou apenas o tenhamos tocado momentaneamente, mesmo que nós não nos identifiquemos como parte dele, a recordação desse mundo é um farol que nos guia para o lugar ao qual pertencemos, pelo resto de nossas vidas." (p. 218)

"A principal característica da natureza selvagem é a persistência. A perseverança. Isso não é algo que se faça. É algo que se é, em termos naturais e inatos. Quando não temos condição de vicejar, seguimos adiante até podermos voltar a vicejar. Seja o nosso isolamento originado de um afastamento da nossa vida criativa, seja uma cultura ou uma religião que nos rejeitou, seja um exílio da família, um banimento de um grupo, seja a imposição de sanções a nossos movimentos, pensamentos e sentimentos, a vida selvagem profunda continua, e nós persistimos." (p. 219)

"É difícil passar anos a fio na companhia que quem não pode nos ajudar a florescer. Ser capaz de dizer que sobrevivemos é um feito. Para muitas, o poder está na própria palabra. No entando, chega uma hora no processo de formação da identidade em que a ameaça, ou o trauma, já faz parte do pasado. É então que se passa ao próximo estágio da sobrevivencia, à cura e ao desenvolvimento futuro. Se permanecermos no estágio de sobreviventes sem avançar para o desenvolvimento, estaremos nos limitando, reduzindo nossa energía para nós mesmas e nosso poder no mundo a menos da metade.  (…) Às vezes, as pessoas têm medo de proseguir além do status de sobrevivente, pois é exatamente isso o que ele é – um status, um marco de distinção, uma realização “pura e simples, pode apostar, pode acreditar”. (p.226

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