Nem todo Pai é o Melhor do Mundo

O que dizer do meu pai...

Ele não foi o meu herói. Ele não me protegeu. Ele não foi aquele que acompanhou meus primeiros passos, nem foi aquele que me apoiou ou que me ensinou a enfrentar o mundo. Um dia eu até quis que isso fosse verdade, mas com o tempo passou. Porque eu me dei conta de que eu não tinha o melhor pai do mundo. Não porque eu não quisesse tê-lo, mas porque ele não quis me ter. Por algum motivo ele não quis. Por algum motivo ele não pôde. Os motivos eu não sei bem. Mas tenho certeza que não foi por falta de amor. Por isso eu não entendi a escolha... Mas eu precisei aceitar.
Foi quando eu percebi que eu até tinha um pai biológico, que, de tão distante, não conseguia ser um pai real. Daí por vezes eu tentei substituí-lo, mas como substituir o que não existe?
Tá certo que às vezes a gente quer muito ter um pai do lado, que às vezes isso nos deixa tristes. Mas na maior parte do tempo ele nem faz tanta falta e a gente consegue ser muito feliz. O que a gente tem é só curiosidade e um pouquinho de inveja de quem tem uma família completa. E nas relações, aprendemos a ficar na defensiva com medo de um novo abandono. Mas a gente aprende a viver sem pai. E vivemos.

A sociedade sempre sugere que encontremos uma figura paterna para chamarmos de “nosso”, seja o genitor, o marido da mãe, o irmão do pai, o avô, o que cria, que dá sobrenome ou até o próprio Deus... qualquer um. Já minha história de vida me fez acreditar que ser pai é só um título, mas que ter um pai é muito relativo.
Mas são nestas horas que percebemos como a mente humana aprende a lidar com estas situações. Ela se retrai para não naufragar diante de tais circunstâncias. E então, ao longo da vida, aprendemos a ter muitos pais, mas a gente sente que eles nunca foram verdadeiramente nossos. Eles são sempre pais de alguém muito próximo. E por maior a consideração que eles tem por nós, não é a consideração que faz de um homem, pai. “Qualquer um” é muito vazio. A gente quer pra sempre ter um pai só nosso.

Na verdade, talvez eu nunca saiba o que é ter um pai de verdade pelo simples fato de todo mundo ter o melhor pai do mundo e eu não. Mas é difícil ser bom em alguma coisa quando não se pratica. E muito mais difícil é ser o melhor do mundo em alguma coisa. 
Daí eu paro e penso. Quantos pais no mundo a fora estão se questionando onde falharam? O pai de minha mãe também não foi o melhor do mundo. Mas ela o amou. E o próprio pai do meu pai também não foi lá o melhor do mundo. Mas ele o amou. Porque o meu haveria de ser? Porque todo pai tem que ser o melhor de todos? E mais: Porque, pra ser de verdade, ele tem que, necessariamente, ser o melhor do mundo?

A única coisa que herdei do meu pai foram os olhos e a vontade de viajar o mundo. A gente se parece quando ri também. E às vezes quando andamos... Ah, e a gente é meio calado. E fazemos de tudo pra divertir os outros. Mas insisto em dizer que somos totalmente diferentes. E que não aprendi nada com ele. A decisão de pensamento, a força de vontade, a energia da ação, a autonomia, a independência e a razão – que fazem parte do retrato de um pai – eu aprendi com sua ausência. E sabe de uma coisa, eu devo agradecê-lo por isso. Por amar a pessoa que me tornei.

Chega uma hora no processo de formação da identidade em que o trauma já faz parte do passado. Muito embora o pai não tenha nada a oferecer, os rebentos se desenvolvem, crescem independentes e ainda vicejam. 
Muita gente tira grandes aprendizados e lições de vida a partir da convivência com o paterno. O que eu aprendi é que nem todos os pais são os melhores do mundo. Mas ainda assim, são insubstituíveis.


Andréa Martinez

Comentários